- Felipe Oliveira
Tendências para o mercado vegano em 2023 #1 - Alimentação fora do lar
Atualizado: 17 de dez. de 2022
O mercado vegano e vegetariano cresce rapidamente no Brasil, muito em função de mudanças graduais no hábito das pessoas, mas também porque há cada vez maior e melhor oferta de produtos e serviços veganos.
A quantidade de brasileiras e brasileiros que se consideram vegetarianos já ultrapassou os 30 milhões de pessoas (mais que as populações de Portugal, Escócia, Irlanda e Suíça juntas) e quase metade da população já deixou de comer carne, por vontade própria, pelo menos uma vez na semana.

Cerca de 50% dos brasileiros entendem que consumir carne implica em sofrimento animal e o brasileiro médio é mais receptivo a informações sobre sofrimento animal na produção de alimentos que a média dos países do BRIC e dos EUA.
2023 deve ser um ano que solidificará e impulsionará este mercado, não só com foco em produtos alternativos e substitutos, mas também pulverizando seu alcance e democratizando o acesso a produtos e informações de qualidade a toda a população.
Pensando nisso, desenvolvemos uma série de publicações com as tendências do mercado vegano e vegetariano para 2023.
Nesta primeira edição tratamos do tema Alimentação Fora do Lar.
Aproveite!
Alimentação vegana fora do lar em 2023
Não tem UM restaurante vegano aqui perto! "Eu"
Ainda não é fácil encontrar refeições veganas gostosas, disponíveis e acessíveis no Brasil. Falo por experiência própria, até porque, mesmo vegano, não sou um grande fã de saladas. E saladas sem tempero, sem capricho e sem cuidado são a única opção vegana em mais de 90% dos restaurantes brasileiros.
Com exceção de alguns centros metropolitanos, a oferta de refeições, lanches, doces e sobremesas veganas no Brasil ainda é muito baixa. Segundo a SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), há cerca de 240 restaurantes veganos no Brasil e por volta de 3.250 estabelecimentos que oferecem alguma opção vegana no cardápio.
Esses números equivalem, respectivamente, a 0,03% (zero virgula zero 3 por cento!) e 0,4% (zero virgula 4 por cento!) do número total de bares e restaurantes no Brasil. Considerando que pelo menos 14% da população é vegetariana e 3% é vegana, a disparidade entre oferta e demanda é astronômica.
Estamos falando de 30.000 pessoas veganas para cada estabelecimento focado nesse público. Isso é quase um Estádio do Pacaembu lotado!
Entendo que esses números estão desatualizados e acho que uma pesquisa diligente precisa ser feita para mapear esse mercado mas, mesmo que o número fosse o dobro, ou o triplo, ainda seria muito baixo.
Segundo a ABRASEL, o consumo de produtos sem origem animal e mais saudáveis é um dos principais movimentos a impulsionar o mercado de alimentação brasileiro em 2023.
Segundo a matéria:
Independentemente do tipo de negócio, ter opções a base de plantas é mandatório.
Segundo a SVB e o IPEC, em pesquisa de 2021, 32% das pessoas escolhe uma opção vegana quando essa informação é destacada pelo estabelecimento, o que mostra que o interesse existe e é manifesto quando há a oportunidade.
Pessoas de diferentes idades, classes sociais, hábitos de consumo e regiões geográficas têm demonstrado interesse de se alimentar de produtos sem origem animal. Muitas dessas pessoas não são veganas ou vegetarianas, mas buscam consumir mais destes produtos.
Em muitos casos, quando pessoas saem em grupo para almoçar ou jantar e há um vegano, é esta pessoa que tem maior influência na escolha do local. Oferecer boas opções veganas, bem concebidas e preparadas, e não somente uma salada ou guarnição, é um excelente chamariz e uma maneira de incluir um grupo que é grande e tende a influenciar a decisão de compra.
Comida gostosa
Segundo estudo Food&Tech Trends de 2022, da Galunion, o segundo fator que leva pessoas a escolher o que e onde comer é o sabor. Especialmente o sabor quando somado à indulgência: comida gostosa e preparada para confortar.
Inclusive o sabor (21%) está muito à frente da praticidade de ser algum lugar perto de casa (3%) . Isso significa que as pessoas preferem se deslocar para comer em um lugar gostoso do que optar por algum estabelecimento que seja próximo e prático, mas não tão gostoso.

Quem é vegano há um certo tempo sabe muito bem o que é geralmente vendido como "opção vegana" em grande parte dos bares e restaurantes: saladas preguiçosas, guarnições (quando o feijão não tem bacon, obviamente), um pastelzinho de palmito e não muito mais do que isso.
Particularmente, a minha salvação sempre foram os restaurantes de comida árabe, libanesa, síria e de Israel, que tradicionalmente oferecem muitos pratos sem produtos de origem animal (babaganoush, hummus, falafel, etc.) - inclusive é uma dica de grande valor: na dúvida vá num restaurante desses que é sempre garantido.
A questão, portanto, é simples. O sabor e o capricho no preparo são cruciais para atrair e cativar o público vegano, vegetariano e flexitariano. Não basta ter uma opção, ela tem que ser gostosa.
Negociação com fornecedores
Um dos fatores que tem maior impacto no preço e oferta de refeições fora do lar é o custo de aquisição de insumos.
Com o aumento de estabelecimentos veganos e com opção vegana em grandes cidades, um planejamento bem feito associado a programas de compra coletiva de insumos deve reduzir consideravelmente o custo médio dos estabelecimentos e, consequentemente, o preço ao consumidor final.
Comida disponível
As principais fontes de indicação de restaurantes veganos é o site Onde Tem Opção Vegana, criado pela SVB, e influenciadores que fazem um excelente trabalho de divulgar esses estabelecimentos em redes sociais, o que será abordado em uma das próximas edições.
O site Onde Tem Opção Vegana, que já teve quase 400 mil visualizações até o momento em que escrevo, é um mapa com a localização de restaurantes veganos, vegetarianos e que oferecem opção vegana. Inclui desde o Pop Vegan, provavelmente o restaurante vegano mais famoso do Brasil (com razão) até unidades do Outback. Ou seja, é bem variado.
No site, há 115 restaurantes veganos listados. Cerca de metade dos restaurantes que a SVB considera como veganos no Brasil.
Vamos ver onde estão esses estabelecimentos:

Tiro algumas rápidas conclusões desse mapa:
Não consta qualquer restaurante no Rio de Janeiro, que possui famosos e bons estabelecimentos veganos.
O Sul do Brasil aparentemente tem mais opções, e não somente nas capitais.
Grande parte da população, aparentemente, não tem acesso a estabelecimentos veganos.
Precisamos mapear melhor os restaurantes veganos no Brasil.
Existem muitas pessoas que fazem trabalhos fantásticos de divulgar receitas e orientações para quem quer preparar pratos veganos em casa de maneira acessível (e trataremos desse ponto no futuro), mas em relação à oferta de alimentação fora do lar, ainda há muito a ser feito.
Adiciono que a SVB oferece consultoria gratuita para estabelecimentos que querem oferecer opção vegana para seus clientes, e oferecem uma série de materiais e guias para restaurantes que querem oferecer essa opção aos seus clientes.
Como achamos que o mapa feito pela SVB não oferece uma variedade adequada, e deixa de fora muitos estabelecimentos, decidi criar o nosso próprio mapa de restaurantes veganos ou com opção vegana. Conta com quase 400 estabelecimentos e você pode checar aqui ou abaixo:
Caso você conheça estabelecimentos que não constam no mapa acima, envie para nosso email que adicionaremos prontamente!
Comida acessível
A ideia de que produtos e alimentos veganos são mais caros é bastante presente na população. E podemos dizer que é tanto um mito quanto verdade.
Muitos produtos veganos, principalmente os industrializados e alternativos a produtos animais, tendem a ser mais caros pelos motivos abaixo:
Não possuem subsídios.
São vistos como produtos de um nicho abastado por parte dos varejistas.
Não contam (ainda) com ganhos de escala de produção e distribuição.
Mas o fato é que a alimentação vegana é barata! Uma dieta rica em cereais, grãos, verduras e legumes, que atenderia às necessidades nutricionais de praticamente toda a população, é consideravelmente mais barata do que uma dieta rica em proteína animal, leite e ovos.
Ser vegano, de maneira geral, é mais barato do que não ser.
Há restaurantes que oferecem comida vegana muito bem feita a preços populares, mas esses casos ainda são, infelizmente, raros.
Para atender à demanda de veganos, vegetarianos e flexitarianos de diferentes classes sociais e localidades é preciso que haja uma oferta muito maior, mais diversa, acessível e com maior capilaridade. Não somente nos bairros centrais e ricos de grandes metrópoles, mas também em cidades menores e periferias.
Siga nossas próximas edições das tendências do mercado vegano brasileiro em 2023.
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